terça-feira, 5 de maio de 2009

Prazeres de uma viagem barata

(Correspondência na primeira pessoa)
Boa tarde companheiros de aventura,
após ter reiniciado a volta a Portugal em bicicleta em Almeida e ter-me dirigido para a Régua e depois para o Porto, cheguei ao Barreiro fazendo o percurso de regresso pelo litoral, não pude faltar ao baptismo da minha adorada sobrinha (inicialmente tinha previsto seguir para Miranda do Douro). Ficou por fazer Trás-os-Montes e Minho, espero regressar brevemente, para percorrer também esta zona do país.
Com quase 2200km`s efectuados em bicicleta e em autonomia, mais uma vez, refiro que esta forma de viajar é absolutamente maravilhosa...muitos km´s efectuados sozinho, mas também muitas horas de conversa com viajantes e locais, a eterna hospitalidade dos bombeiros e também o acampamento selvagem.
A N222 desde a Régua até Castelo de Paiva é divinal para se fazer de bicicleta(margem sul do Douro)!!! A paisagem é fantástica e o traçado da estrada deu-me um especial prazer, tem muitas curvas e muito desnível acumulado. Em Resende os bombeiros não me poderam acolher, não tinham condições, iam iniciar obras em breve, fui avisado por eles que não deveria partir, pois dali para a frente não havia onde ficar e já era tarde. Resolvi partir ainda com mais emoção pela dificuldade acrescida e quando alguns km´s mais à frente passei por Caldas de Aregos e percebi que tinha que acampar ali. A vila tem algo de mágico, acampei em frente à marina com o Douro ao nível dos meus olhos, o comboio passa na outra margem, ouço-o como se tivesse bem perto de mim, milhares de pássaros a cantar, casas antigas lindas... Montei a tenda debaixo de um alpendre de uma das entradas das termas, tomei banho no Douro, devia ter tomado banho na água quente que sai das torneiras ali bem perto, das termas, mas só descobri depois.
Na ciclovia de 50km´s que inicia em Pedrogão (antes de Vieira de Leiria) despisto-me batendo com a roda da frente no pequeno muro da ciclovia e quase caiu...50km`s de ciclovia sempre dão para nos distrairmos...
Em Peniche tive o 12º furo da camara de ar da frente e 2º da viagem.
Na Ericeira dou uns mergulhos na praia, e umas ciclistas brasileiras metem-se comigo já na praia, e a conversa prolonga-se intercalada com uns mergulhos,sob um sol e uma conversa quente...
Parto tarde e quando passo pela Praia das Maçãs já é noite. Este percurso foi igualmente fixe, sem lanterna, os pirilampos ornamentavam a berma da estrada...chego a cascais e mais uma vez fico nos bombeiros, já são quase 22.00h. Deito-me pelas 3.00h, bombeiros são gente boa, e novamente a conversa, gargalhadas...viajo sozinho mas conheço ainda mais pessoas do que se viajasse acompanhado, e consigo rir-me imenso com desconhecidos.
Nunca conseguimos transmitir num texto as coisas por que passamos, mas esperamos sempre aguçar o apetite por quem tem interesse por estas coisas...

P.S. Enquanto vou pedalando, ponho-me a pensar nos bombeiros...
Fazem de graça um trabalho que é nobre e carregado de vocação, é arriscado, demonstram uma enorme dedicação e amor pelo que fazem, são pessoas simples, são de fácil relacionamento e têm calor humano. Continuo a pedalar...do lado oposto estão os políticos, arrogantes, mentirosos, enriquecem depressa, são corruptos, querem ser o centro das atenções, andam vestidos com fatos caros e têm sede de poder, não para servir, mas para se servirem...não têm vocação para o que fazem...olhamos para eles e não têm credibilidade...e ganham o que os bombeiros deviam ganhar...é estranho...e a nossa sociedade acha isto normal...
...continuo a pensar enquanto pedalo...e os gestores da Galp ganham 50 000 euros por mês fora regalias, só para terem o trabalho de nos roubar(!). Sim roubar, porque enquanto na Noruega os lucros do petróleo vão para as pensões dos reformados, aqui vão para as contas de apenas alguns...e a Galp há bem pouco tempo dobrou os lucros, num período em que o consumo do combústivel desceu...quando o petróleo subia nos mercados internacionais, a Galp actualizava os preços rápidamente, quando o petróleo descia, a Galp não acompanhava a descida. Sim foi esta a justificação que a própria Galp deu para os lucros gigantescos (nós já sabiamos)! É que nem eficiente consegue ser...(!!!), cala-te boca que já estás a relembrar coisas a mais...
Como seria bom que os politicos e os gestores fossem também bombeiros...


Um abraço a todos,
Nelson Picado

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