...cheiro a café, soldados da paz que descem escadas de madeira de madrugada...pão de azeite...prazer de o fazer!

Olá companheiros de aventura,
Quanto à minha viagem, está tudo a correr bem, à excepção de a luva que trazia no bolso ter caído para a corrente e estragar o dropout, fez-me regressar a casa uns dias antes do previsto...foi na 2ªfeira, dormi no quartel dos bombeiros de Almeida e quando apenas tinha percorrido alguns metros caiu-me a luva do bolso, prendeu-se na corrente e lá se foi o dropout. Estou com mais de 1200km`s.
No entanto a viagem tem sido muito interessante...é claro que esta temperatura fantástica tem ajudado bastante, à excepção de sábado e domingo passado nas beiras que estava um frio de cortar, até caiu neve (já em Vilar Formoso), confesso que rapei frio a sério. As vilas alentejanas são lindas, Campo Maior tem um cheirinho a café..., nas beiras foram muito acolhedores...encontro sempre pessoas interessantes para conversar, e tb para oferecer dormida, como foi o caso em Mosteiros, junto à serra da S. Mamede, estava eu a tomar o meu duche ecológico na fonte da aldeia, quando se aproxima um senhor movido pela curiosidade de ver um viajante numa bicicleta carregada de tralha e a tomar banho de cantil na fonte, ofereceu-me dormida num monte alentejano ali perto que ele tinha, embora sem electricidade mas com cobertores na cama. Agradeci a oferta fervorosamente, não quis dar trabalho, e até porque já tinha topado a praça de touros no inicio da aldeia, onde viria a dormir (acompanhado de um rato que entrou pela tenda à noite).
Na revista Visão de 19 a 25 de Março vem uma reportagem sobre alguns paraísos em Portugal, existe lá uma foto de uma senhora padeira de Penha Garcia com quem tive o prazer de conversar, vê-las (a ela e à sua colega) trabalhar na sua arte, e tb de experimentar o pão de azeite e os bolinhos de laranja. No Sabugal fiquei a saber que existem pessoas que gostam de cobra na canja e tb cozinhadas de outra forma. Enquanto dormia no quartel dos bombeiros de Almeida, acordo com os soldados da paz a equiparem-se e a descerem as escadas de madeira a grande velocidade, oiço "fogo urbano".
Sei que regressar a casa durante a viagem desvirtua um pouco o conceito da viagem, mas é a única forma que eu tenho de a fazer, mas mesmo assim não deixa de ser muito bom e enriquecedor. Confesso que sou um fervoroso adepto da viagem de bicicleta com alforges, viaja-se barato se acompanhado de uma simples tenda e tem-se um nível de satisfação de topo.
Pretendo deslocar-me em direcção a Miranda do Douro, esperam-me boas paisagens e subidas de respeito, e espero tb continuar a receber uma amabilidade igual ao das pessoas das beiras. Espero enviar algumas fotos este fim semana.

Um abraço a todos,
Nelson Picado