Rock Trip : RODELLAR - RIGLOS

de 28 de Julho a 12 de Agosto de 2007

(12/08/2007) "O que dirias se te aproximasses de um local onde a rocha não sendo tudo, significa muito, com uma paisagem que joga com a tua vista e com um rio onde te podes banhar debaixo do ardente sol de verão? E se, nesse lugar, se juntassem os escaladores locais com as feras vindas do estrangeiro para compartilhar vias de cinco estrelas e cervejas no bar?...
Esse local é Rodellar, incipiente meca da dificuldade com paredões para todos os gostos e gente de todas as cores (...)" - Revista Escalar, nº 56 pp.27

Penso que esta breve descrição dá para ter uma ideia do grau de importância que esta escola de escalada tem no panorama mundial. Todos os anos este pequeno "pueblo" ( outrora destinado ao abandono, como muitos outros na região) é invadido por milhares de escaladores que procuram algum pedaço de rocha que justifique todo o treino e esforço empreendido nos meses anteriores...

Localização

Rodellar situa-se no " Parque de la Sierra e los Canones da Guara", localizado geograficamente nas serras exteriores do Pirinéu central, entre a nacional 240 que une Huesca e Barbastro a Sul e o vale de Guarga a Norte. A Este está limitado pelo rio Vero e a Oeste pelo rio Flumen.

A complexa estrutura geológica cercada de canhões, fossas e gargantas. A abundância de espécies animais e vegetais, algumas delas endémicas e em perigo de extinção e a presença de covas e abrigos repletos de pinturas rupestres e de monumentos megalíticos preenchem este local de um misticísmo e magia muito particulares...

Dolmen de Losa Mora (megalítico)

Escalada

A escalada nesta zona central da serra de Guara ocorreu mais tardiamente do que em Vadieello ou Riglos.

Os primeiros registos de escalada no vale de Rodellar datam de 1951 quando P. Minvielle e J. Mole ascenderam a uma das agulhas características do Barranco de Máscun.

Contudo, só nos anos 80 (devido ao desenvolvimento da escalada desportiva) é que os magníficos paredões e covas foram equipados datando dessa época o primeiro oitavo de rodellar "La Maldita Codicia", hoje 7c+.

Nos Anos 90. e com o impulso dado pelo Gobierno de Aragón e pelo Grupo de Montanha da Guardia Civil (responsáveis pelo equipamento de mais de 200 vias) é que rodellar se afirmou no panorama internacional.

Se até agora ainda têem dúvidas ficam os números:

- 40 Sectores

- + de 800 vias equipadas (representado apenas 30% do total de rocha!!!!)

1ª Semana

Parti da Quinda do Conde por volta das 11 da manhã de Sábado (28/7) com destino a rodellar, fui com o Texas, um conhecido escalador português que já atingiu o difícil patamar de 8º grau (Rampa dos crocodilos - 8a) e que é uma personagem muito divertida e singular.À nossa espera estavam já o pujan e o hugo peniche, este último meu colega de faculdade e, agora, companheiro de aventuras.

Demorámos cerca de 11 horas a chegar ao nosso destino, não havendo qualquer percalço na viagem.

Escalámos domingo, segunda e terça mais ou menos nesta lógica: acordar às 10:00, tomar o pequeno almoço e tratar da higiene pessoal, baixar ao barranco ( a maioria dos sectores situa-se no barranco criado pelo rio Máscun); Aquecer no Sector El Camino (vias cotadas entre 6a+ e 7b) comer qq coisa e ir apertar até haver sol nos restantes sectores.

Quarta Feira - Dia de descanso (mas só de escalada :)) programámos fazer o canyon do rio Formiga. Começámos a fazer a descida perto das 15 horas e não levámos cordas porque nos tinham dito que não iríamos necessitar - erro crasso! (NOTA: levar sempre corda para um canyon por mais acessível que seja!), passámos, 2/3 ressaltos até que chegámos a um ressalto em que estavam uns franceses com o rappel montado e nos perguntaram como tinhamos chegado até ali sem cordas e se iríamos saltar aquele ressalto.

Após uma longo xpera decidimos não saltar porque era um salto esquisito onde a rocha fazia uma espécie de cone e tinha mesmo de se ter pontaria :). Solução? dois ficaram no ressalto e outros dois (eu e o pujan) decidimos fazer "descanyoning" - subir o rio, voltar ao trilho, andar 45' para ir buscar as cordas + 45' de regresso, fazer o canyon até onde eles estavam à nossa espera... grande tareia!

O resto do canyon correu sem problemas e, devo referir que aconselho vivamente este canyon, é muito divertido pois tem muitos resaltos e tobogans grandes, e os requisitos técnicos são baixos.

Quinta Sexta e Sábado escalar com a mesma rotina referida anteriormente... (NOTA: Fazer um canyon num dia de descanso não serve de descanso...)

Domingo fomos fazer um trekking até Nazarre, um pueblo abandonado na altura do Franco que fica a cerca de 16 km de Rodellar. Partimos às 18: 30 de Rodellar e fomos até outra aldeia abandonada que fica por cima do Barranco do Mascun Superior:

Depois seguimos para Nazarre mas perdemos o trilho... escureceu... e começõu a trovejar (QUE LINNDDOO!) lá nos conseguimos orientar porque encontrámos o GR1 que é comum com uma parte da PR que tínhamos de fazer até Nazarre. Chegámos ao destino um pouco encharcados mas esmagados pela sensação que é estar na cadeia pré-pirineica rodeados por relâmpagos, sentimo-nos como moscas, mas das pequeninas...

Capela de Nazarre (Séc. XII)

2ª Semana

Dormimos dentro da capela e quando acordámos vimos, através do miradouro, o Vale de Ordesa e o Mundo Perdido (ARREBATADOR!). Caminhámos para Nazarre e seguiram-se mais 2 dias de escalada, o terceiro era para ser de descanso porque íamos para Riglos mas é aqui que entra o Miguel Catita... O Miguel é um dos melhores escaladores portugueses já tendo encadeado 8c e SACADO 8A À VISTA...

bem, pormenores à parte, está a viver em rodellar com a namorada que também é escaladora e convidou-nos para passarmos lá por casa. Qd entrámos vimos que, parte da sala era um muro de treino... já não descansámos... (NOTA: nunca ir à casa de um escalador num dia de descanso porque o mais certo é o dia de descanso terminar num aperto dos diabos:))

Seguimos para Riglos...

RIGLOS
300 mts!!!

Vou dizer outra vez: 300 mts!!!

Chegámos a Riglos e deparámo-nos com a abismal visão destas fantásticas torres de conglomerado que se erguem em frente a este pequeno pueblo. Objectivo: fazer a maior via extra-prumada de espanha - La Visera "El Zulu Demente", 7b 250mts!

Jantámos nas carrinhas e tivémos logo aí um pequeno percalço: o jantar não caíu bem ao hugo e às 3:30h estávamos a ir para o centro de saúde de Ayerbe...

O Hugo recuperou bem e mesmo após uma noite de vómitos às 8 a equipa estava no pé da via. Formásmos 3 cordadas eu e o Pujan, o Hugo e o Jorge (um Madrileno que tin ha vindo connosco) e mais dois espanhóis que íam fazer a mosquito (6b 300 mts).

A vía tinha 9 Largos e nós conseguimos fazer apenas em 5, xegámos a fazer 3 largos de 6b de uma só vez.

É uma sensasção espectacular fazer big wall naquele sítio: 300 mts de parede, chapas distantes (5-8 mts), e sempre presa grande parecia que íamos a remar naquele monumental mar de calhau... terminámos a via às 15 horas à qual se sucedeu uma caminhada de 30' para voltar aos carros. Todos sentimos um vazio esquisito, uma sensação que em 24 anos nunca tinha sentido...

Voltámos para Rodellar e prosseguimos a escalar até sexta se bem que riglos nos tirou um pouco o andamento, só valtando a render a sexta feira...

Sábado voltámos para o nosso rectângulo com a certeza de que para o ano queremos voltar mais fortes...

Primo