O desejo de percorrer os caminhos de Santiago estava já enraizado dentro de nós, e quando ambos abordamos o assunto rapidamente percebemos que o tínhamos de fazer neste ano de 2007, mas precisamente em Agosto. Na nossa imaginação correram imagens das paisagens, de sermos peregrinos, da sensação de liberdade e aventura por terras espanholas.
Primeira decisão: íamos fazê-lo de bicicleta. As férias que podíamos tirar davam perfeitamente para fazer os caminhos em bicicleta. A pé era impensável, pois demora cerca de 1 mês, e assim demoramos de 13 dias.
Começamos então os preparativos para a nossa grande viagem. Existem uma série de aspectos importantes a ter em conta antes de partir, daí que criamos um ficheiro com o material para levar e com os aspectos principais dos preparativos de uma viagem deste género. É importante juntar toda a informação, actualizar, pesquisar na Internet, falar com outras pessoas que já o tenham feito, obter o máximo de dados possível para que a viagem corra sem problemas de maior. Contudo, decidimos que também não queríamos saber "tudo, tudo", pois a descoberta faz de nós aventureiros e aprendemos com o desconhecido. Precisamos apenas de saber o essencial como a distância total a percorrer de acordo com os dias que se tem disponíveis e assim decidir de onde partir, horários de comboios em Portugal e em França (como foi o nosso caso), material a levar, e regresso...e podem crer que não nos arrependemos.
Segue então um breve resumo do essencial para se fazer o Caminho de Santiago (o Caminho Francês) saindo de San Jean Pied de Port até Santiago de Compostela.
Preparação
A questão de optarmos por levar alforges na bicicleta pela primeira vez, deveu-se ao facto de não termos assistência de carro. Esta opção acabou por se revelar muito boa, pois dá-nos total autonomia, somos mais criteriosos sobre as coisas essenciais a levar, aprendemos bastante sobre suportes e alforges e aprendemos também a andar de bicicleta com carga, que depois acaba por ser quase igual, com a habituação até se fazem descidas técnicas! Atenção, testem sempre bem o suporte e os alforges, pois pormenores como o calcanhar do pé tocar nos alforges, alforges que não se fixam bem ao suporte, etc etc podem acontecer. Testem esta solução antes de partir para qualquer viagem caso optem por este conceito.
Outro aspecto importante é o dos transportes. Podem consultar o site da CP (http://www.cp.pt/) para obter informação. Sobre o horário dos comboios franceses, pode ser obtida no Porto na estação de Campanhã e em Lisboa na estação do Oriente no balcão de informação de bilhetes internacionais (não sei se há mais estações em que pode ser obtida esta informação). Nós optamos por apanhar o Sud-Express na Estação do Oriente. O bilhete custou 123€ por pessoa pois assim tínhamos um compartimento só nosso, no qual dormimos também. O bilhete tem de ser comprado com muitos dias de antecedência, pois nós tentamos comprar o bilhete para o compartimento privado 5 dias antes e já não havia. Tivemos que comprar para um dia depois do previsto, portanto antecipem a compra do bilhete se optarem pelo compartimento.
Saber onde existem albergues ao longo do caminho, bem como a distância entre eles e a altimetria do caminho é importante, esta informação está disponível na Internet.
A credencial de peregrino pode ser obtida em Portugal com antecedência. Nós obtivemo-la através da Associação Portuguesa dos Amigos do Caminho de Santiago, mas também pode ser obtida em França ou Espanha logo no momento da partida. Demora apenas alguns minutos a preencher um prospecto e já está. Para se poder usufruir dos albergues e também obter no final a “compostelana”, é obrigatório ter credencial. Custa apenas 1 euro e vai ficar recheada de “sellos” lindíssimos das terras por onde passarem.
Inicio da Viagem
Levámos pouco dinheiro, apenas para as viagens e para os primeiros dias, e levámos também cartão multibanco que funcionou na perfeição (não se paga qualquer taxa em Espanha).
Apanhamos o Sud-Express na Estação do Oriente e fomos até França, mais precisamente Hendaye. Como o compartimento não era assim tão grande tivemos que prender com uma cinta uma das bicicletas no cabide, e assim ia uma bicicleta por cima da outra, e já tínhamos espaço suficiente quando estávamos sentados. A solução de ir no compartimento privado revelou-se cara mas muito cómoda, pois pudemos dormir em camas durante a noite, viajarmos descansados com a bagagem (é-nos dado uma chave magnética para ter acesso ao compartimento) e termos espaço para colocar as bicicletas. De outra forma não o podíamos fazer, pois nos compartimentos abertos há muito pouco espaço.
Descemos em Hendaye em França, e saímos rápido(!) para comprar o bilhete que nos iria levar até Bayonne, e em Bayonne apanhamos outro comboio que nos levou até San Jean Pied de Port. O processo de sair dos comboios, tanto o português como o francês, tem de ser rápido, porque tivemos que transportar as bicicletas com os alforges descendo escadas para mudar de linha, e estar na fila para comprar bilhete. Quase não apanhávamos os dois comboios franceses pois os comboios têm horários muito próximos entre descer de um e subir para outro. No último comboio (Bayonne-SJPDP) houve mesmo necessidade de suplicar ao revisor que nos abrisse a porta. Entrámos e comprámos o bilhete já no comboio a uma simpática revisora francesa, portanto atenção à rapidez de mudança de comboio. No interior dos comboios franceses rapidamente conhecemos peregrinos que também vão fazer o caminho, pois existe muitos peregrinos partem desta localidade Francesa.
Primeira decisão: íamos fazê-lo de bicicleta. As férias que podíamos tirar davam perfeitamente para fazer os caminhos em bicicleta. A pé era impensável, pois demora cerca de 1 mês, e assim demoramos de 13 dias.
Começamos então os preparativos para a nossa grande viagem. Existem uma série de aspectos importantes a ter em conta antes de partir, daí que criamos um ficheiro com o material para levar e com os aspectos principais dos preparativos de uma viagem deste género. É importante juntar toda a informação, actualizar, pesquisar na Internet, falar com outras pessoas que já o tenham feito, obter o máximo de dados possível para que a viagem corra sem problemas de maior. Contudo, decidimos que também não queríamos saber "tudo, tudo", pois a descoberta faz de nós aventureiros e aprendemos com o desconhecido. Precisamos apenas de saber o essencial como a distância total a percorrer de acordo com os dias que se tem disponíveis e assim decidir de onde partir, horários de comboios em Portugal e em França (como foi o nosso caso), material a levar, e regresso...e podem crer que não nos arrependemos.
Segue então um breve resumo do essencial para se fazer o Caminho de Santiago (o Caminho Francês) saindo de San Jean Pied de Port até Santiago de Compostela.
Preparação
A questão de optarmos por levar alforges na bicicleta pela primeira vez, deveu-se ao facto de não termos assistência de carro. Esta opção acabou por se revelar muito boa, pois dá-nos total autonomia, somos mais criteriosos sobre as coisas essenciais a levar, aprendemos bastante sobre suportes e alforges e aprendemos também a andar de bicicleta com carga, que depois acaba por ser quase igual, com a habituação até se fazem descidas técnicas! Atenção, testem sempre bem o suporte e os alforges, pois pormenores como o calcanhar do pé tocar nos alforges, alforges que não se fixam bem ao suporte, etc etc podem acontecer. Testem esta solução antes de partir para qualquer viagem caso optem por este conceito.
Outro aspecto importante é o dos transportes. Podem consultar o site da CP (http://www.cp.pt/) para obter informação. Sobre o horário dos comboios franceses, pode ser obtida no Porto na estação de Campanhã e em Lisboa na estação do Oriente no balcão de informação de bilhetes internacionais (não sei se há mais estações em que pode ser obtida esta informação). Nós optamos por apanhar o Sud-Express na Estação do Oriente. O bilhete custou 123€ por pessoa pois assim tínhamos um compartimento só nosso, no qual dormimos também. O bilhete tem de ser comprado com muitos dias de antecedência, pois nós tentamos comprar o bilhete para o compartimento privado 5 dias antes e já não havia. Tivemos que comprar para um dia depois do previsto, portanto antecipem a compra do bilhete se optarem pelo compartimento.
Saber onde existem albergues ao longo do caminho, bem como a distância entre eles e a altimetria do caminho é importante, esta informação está disponível na Internet.
A credencial de peregrino pode ser obtida em Portugal com antecedência. Nós obtivemo-la através da Associação Portuguesa dos Amigos do Caminho de Santiago, mas também pode ser obtida em França ou Espanha logo no momento da partida. Demora apenas alguns minutos a preencher um prospecto e já está. Para se poder usufruir dos albergues e também obter no final a “compostelana”, é obrigatório ter credencial. Custa apenas 1 euro e vai ficar recheada de “sellos” lindíssimos das terras por onde passarem.
Inicio da Viagem
Levámos pouco dinheiro, apenas para as viagens e para os primeiros dias, e levámos também cartão multibanco que funcionou na perfeição (não se paga qualquer taxa em Espanha).
Apanhamos o Sud-Express na Estação do Oriente e fomos até França, mais precisamente Hendaye. Como o compartimento não era assim tão grande tivemos que prender com uma cinta uma das bicicletas no cabide, e assim ia uma bicicleta por cima da outra, e já tínhamos espaço suficiente quando estávamos sentados. A solução de ir no compartimento privado revelou-se cara mas muito cómoda, pois pudemos dormir em camas durante a noite, viajarmos descansados com a bagagem (é-nos dado uma chave magnética para ter acesso ao compartimento) e termos espaço para colocar as bicicletas. De outra forma não o podíamos fazer, pois nos compartimentos abertos há muito pouco espaço.
Descemos em Hendaye em França, e saímos rápido(!) para comprar o bilhete que nos iria levar até Bayonne, e em Bayonne apanhamos outro comboio que nos levou até San Jean Pied de Port. O processo de sair dos comboios, tanto o português como o francês, tem de ser rápido, porque tivemos que transportar as bicicletas com os alforges descendo escadas para mudar de linha, e estar na fila para comprar bilhete. Quase não apanhávamos os dois comboios franceses pois os comboios têm horários muito próximos entre descer de um e subir para outro. No último comboio (Bayonne-SJPDP) houve mesmo necessidade de suplicar ao revisor que nos abrisse a porta. Entrámos e comprámos o bilhete já no comboio a uma simpática revisora francesa, portanto atenção à rapidez de mudança de comboio. No interior dos comboios franceses rapidamente conhecemos peregrinos que também vão fazer o caminho, pois existe muitos peregrinos partem desta localidade Francesa.
San Jean Pie de Port é muito bonito, mas é apenas a primeira vila bonita das muitas que iríamos conhecer. Contudo, vale a pena dar uma volta por lá, até porque podemos carimbar a nossa caderneta num centro de apoio ao peregrino, e perceber-mos melhor onde é o início do caminho.
Em SJPDP existem duas opções para ir até Roncesvalles: pela montanha que é mais longa, sobe-se dos 200 até a mais de 1300metros; outra opção é mais curta e sobe-se pouco. A sinalização em SJPDP sugere que façamos a opção mais curta em caso de mau tempo, e embora estando um pouco nublado partimos pela opção da montanha. Não há palavras, vale mesmo a pena optar por este caminho, é do mais fantástico que vimos até hoje! São 20Km a subir e 5km a descer muito, paisagens maravilhosas e de rara beleza. Quando iniciamos a descida para Roncesvalles os “v-brake” quase nos pareciam insuficientes para travar as nossas máquinas que iam carregadas, e que embalavam com uma aceleração muito forte devido ao declive acentuado, pela primeira vez sentimos falta de uns “discos”.
Durante a viagem
Não vamos falar muito para não contar tudo, é mesmo para viver este caminho. Não desperdicem as férias a fazer coisas que podem ser feitas o ano inteiro, ou porque pensam que é muito difícil de fazer, ou porque não se tem com quem ir, porque certamente vão encontrar muitos companheiro(a)s de viajem. O mais difícil é romper com a nossa inércia pessoal e decidir ir, depois é só conversar com quem já fez o caminho ou ir à Internet procurar informação.
Bom...durante a viagem conversámos com pessoas de toda a Europa, da Coreia do Sul, Brasil, USA, China, etc. Ninguém se conhece mas estão lá todos pela mesma causa e comunicar é simples, podemos cumprimentar e conversar com todos, descobrir coisas impressionantes, como dois irmãos que vinham a pé desde a Suíça; marido e mulher vinham de bicicleta desde Inglaterra; marido e mulher empurravam um carro de madeira com uma só roda ao meio, desde a Holanda; mãe e filha vinham de bicicleta da Holanda; um “velho” alemão de barbas e cabelo grande acompanhado de um cão empurrava um carro de mão sofisticado onde transportava as suas muitas coisas (100Kg de carga); até encontrámos um monge português com o qual nos “perdemos” a conversar, que estava a fazer o caminho ao contrário, partiu de Braga e pretendia ir até Roma.
Quanto aos albergues existem muitos, mas à medida que nos aproximamos de Santiago vão ficando cada vez mais cheios. Nada que uma esteira não resolva, assim podemos ficar no interior do albergue e dormir debaixo de um alpendre ou mesmo no jardim. À noite faz frio e cai humidade, portanto é necessário um saco cama que resista a temperaturas baixas (5º a 10º no Verão) se tiverem que dormir no exterior.
Nós fizemos praticamente o caminho todo em fora de estrada, exceptuando no final de um dia ou dois, pois os albergues iam estando cheios e queríamos avançar para os seguintes, e o terreno era muito acidentado e estava a ficar de noite.
Existem muitos albergues, e cujo preço vai desde 0€ (chamado donativo) aos 8 ou 10€.
Quanto à compra de comida sugerimos que o façam em supermercados como o Lidl, Dia e outras redes de supermercados espanhóis com preços ao nível de Portugal, algumas lojas de rua são muito caras, tomem atenção aos preços.
Ao longo do caminho passamos por muitos riachos onde tomámos banho e nos refrescámos, tivemos sorte, só apanhamos 3 dias de muito calor, e 5 minutos de chuva num dos dias. Também existem muitas fontes de água potável onde enchíamos sempre os nossos cantis.
Por vezes o caminho dos peregrinos cruza a estrada nacional que vai até Santiago pelo que é necessário muita precaução. Seguir sempre o caminho por fora de estrada também é boa política pois embora o esforço seja maior, somos sempre brindados com aldeias bonitas, e outras pequenas coisas que nos fazem dizer “foi difícil chegar aqui mas estou feliz”.
Existem também algumas zonas menos boas, como a entrada em vilas ou cidades por zonas industriais, ou quando se percorre o caminho durante muito tempo próximo da estrada nacional.
Levámos máquina digital e tirámos centenas de fotografias, são para reviver bons momentos e contagiar quem ainda não lá foi.
De referir também que sempre nos sentimos seguros e nunca ouvimos falar de roubos em albergues ou fora deles, embora prendesse-mos sempre as bicicletas com cadeado.
Não vamos dizer mais nada, dizemos apenas que mais importante que chegar ao fim é o próprio caminho que nos ensina e enriquece.
Chegada a Santiago de Compostela
É bonito chegar a Santiago, mas muito mais foi todo o caminho até chegar lá.
Existe estação do comboio em San Tiago. Apanhamos um comboio até Vigo, e outro de Vigo até ao Porto. Não é necessário desmontar e embalar as bicicletas em ambos os comboios pois existe espaço próprio para elas. Refiro que nunca pagámos qualquer taxa adicional por transportar as bicicletas.
O Regresso
Regressamos ao quotidiano, voltamos ao nosso lar, mas na nossa mente nunca se irá perder toda a riqueza espiritual que ganhamos com esta viagem e nunca nos iremos esquecer daqueles peregrinos com quem nos cruzamos e que, assim como nós, caminhavam rumo a Santiago de Compostela. Já agora, e a título de curiosidade, Compostela significa “campo de estrelas”.
Regressamos ao quotidiano, voltamos ao nosso lar, mas na nossa mente nunca se irá perder toda a riqueza espiritual que ganhamos com esta viagem e nunca nos iremos esquecer daqueles peregrinos com quem nos cruzamos e que, assim como nós, caminhavam rumo a Santiago de Compostela. Já agora, e a título de curiosidade, Compostela significa “campo de estrelas”.
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4 comentários:
"Amigo, põe-te a caminho. A jornada é longa, mas a vida é mais.
Deita tudo para trás e segue.
Quanto menos trouxeres mais perto estarás de Deus e de ti mesmo."
Para pensarem sobre isto!...
Os grandes viajantes são os que não viajam para chegar. Chegar é apenas o início de outra aventura.
Abraço, parabéns.
Parabéns Nelson e Carla!
Pelo que acabei de ler foi um "BOM CAMINHO" para ambos.
Para sempre peregrinos, para sempre viajantes!
Abraços e beijinhos.
P.S - Esta crónica "temperada" com Wim Mertens parece um "hino celestial".
Parabéns também CAB pelo blog e um obrigado pelo "privilégio" de poder aqui escrever umas palavritas ( doçes e amargas, mas as primeiras batidas em castelo).
Continuação de muitas aventuras.
Parabens pela aventura antes demais;)
*Ainda* tenho pena de não me conseguir aventurar sozinho por algo assim.
Cheguei o ano passado a santiago mas por outro trilho. (de Lisboa!) Entretanto guardo ansiosamente pela oportunidade de o fazer partindo de SJPdP.
Cumprimentos
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